[RP FECHADA] She's a Modern Lover

Ondas quebravam na beira da praia e o relaxante aroma da maresia era tranquilizante para mim. Meus olhos fixos fitavam o horizonte e ignorava a qualquer um que passasse pelas redondezas da praia. Sim, eu temia ao imenso mar, se fosse por mim, o mesmo poderia ser extinto de todo o universo. Entretanto, o tanto que temia era o quão admirava-o; eu simplesmente amava sentir o cheiro da maresia marítima e observar o movimento das águas enquanto o sol tocava ao horizonte, pondo-se no mesmo num deslumbrante cenário.

Por um segundo pensei ter visto alguém emergir da água, mas de imediato optei em acreditar que era somente fruto de minha conturbada imaginação; prova disto era pelo fato da garota que se materializara no mar era eu. Ótimo, já não bastava ter pesadelos pela noite com aquele tenebroso acontecimento, agora eu simplesmente o reproduzia mesmo que acordada. Se alguém soubesse daquilo duvidaria, a indestrutível Hanna temia a coisa mais estúpida existente, o mar. Jamais havia mostrado fraqueza para ninguém, n u n c a mostraria vulnerabilidade a qualquer um em toda minha vida.

Uma voz dissipou toda a serenidade que me rondava. Conhecia aquela voz, não precisava nem olhar ao recém-chegado para certificar-me de quem se tratava. Caine. Sem qualquer autorização e certa inconveniência o garoto se sentou ao meu lado e respirei fundo antes de desenhar um falso simático sorriso nos lábios. — Caine, que desprazer em revê-lo. — Desviei meu olhar para o rapaz e enquanto alternava meu sorriso sereno para um irônico e cargado de veneno. Caine era um legitimo troublemaker, tal fama era conhecida por todo o acampamento e infelizmente aquilo me atraia, talvez por este motivo segredava um ódio pelo garoto. Muitos diziam que uma linha tênue interligavam o amor e o ódio, se estas palavras fossem de fato verídica eu estava com sérios problemas. — Este acampamento já foi melhor, tenho que admitir. — Revirei os olhos ao notar um grupo de novos campistas caminharem pela areia a alguns metros a minha frente. Os sorrisos ansiosos e os olhares curiosos me davam nos nervos. Eu adorava aquele lugar, quando o mesmo era um dos mais famosos acampamentos da Califórnia, ultimamente era somente mais um acampamento onde qualquer tinha livre acesso e um local extinto de qualquer diversão até então. Guiei minhas orbes para o meu indesejável acompanhante e franzi as sobrancelhas ao ver que o mesmo me fitava, um olhar lascivo, como um lobo mirando seu alvo.  — Então, Caine. Soube que é o monitor do chalé um. Parabéns, eu acho. — Dei de ombros antes de desviar o olhar para o horizonte novamente. A paisagem naquele instante me parecia perfeita demais, desejei profundamente que um temporal caísse sobre o acampamento e aquele clima sereno e adorável se acabasse.

Não pude conter o riso com as verdades ditas pelo rapaz, ele conhecia-me afinal. Pelo menos era isto que aparentava, já que sabia o quanto eu não me importava com seu novo cargo no chalé; além de me chamar de Rainha, o que eu claramente admirava num ser. Qualquer um que me chamasse desta maneira ganhava de imediato um porcento de minha atenção. — Desde quando me conhece tão bem assim? Já até sabe quando estou sendo sarcástica. — Entortei os lábios num sorriso malicioso antes de fixar o olhar no horizonte, não arriscaria encara-lo demais, estava mais que ciente de que um contato visual permanente entre mim e ele resultaria em coisas que eu lutava para não pensar.

A brisa marítima soprou por toda praia, um leve arrepio percorreu meu corpo de imediato. Alguns fios alourados caíram a frente de meus olhos e antes mesmo que eu cogitasse a ideia de afasta-los Caine ousou faze-lo. Involuntariamente, meus olhos guiaram até os dele e fixaram ali, suas orbes azuladas eram atrativas; encarava sutilmente o movimento de seus lábios enquanto o mesmo persistia em me provocar. Estava claro que aquele era um de seus passatempos favoritos. Escutei suas indagações e obriguei-me a desviar meu olhar e um sorriso desdenhoso se tornou presente em meus lábios. — Boa pergunta... Talvez, pelo fato de você se relacionar com garotas estúpidas que caiam na lábia de um qualquer como você. — Mordisquei o lábio ao notar que minha voz não soara tão convincente quanto eu esperava; com sorte ele não notaria tal fracasso.

Soltei um longo suspiro, este poderia ser interpretado como um suspiro de tédio ou de aborrecimento. Se tinha algo em mim que eu adorava era o quando conseguia ser enigmática e surpreendente. Ninguém nunca sabia o que esperar quando se tratava de mim e eu prezava isto, esforçava-me para manter-me assim, indecifrável. — Qual é, diga-me algo que não seja obvio. Eu ser gostosa e apaixonante não é segredo. — Tornei a olhar nos profundos olhos azuis do alemão; um sorriso charmoso nos lábios e uma estratégica mordida nos lábios fez com que a atenção do mesmo se voltasse por completo para mim. — Qual é, Wolff. O fã club das patéticas adoradoras do Caine está extinto? — Sussurrei enquanto encarava-o fixamente. De um modo estranho eu considerava-o parecido comigo em certos aspectos. Eu adorava provoca-lo também.

Retrai o lábio inferior, deixando-o imóvel entre meus dentes; estreitei o olhar e franzi o nariz, tal expressão tinha um único significado, eu estava completamente confusa. Geralmente quando me encontrava em tal estado de total turbidez costumava ficar mais pensativa. Tudo isto era resultado das palavras de Caine. "Dispensei minhas servas para vir falar com você". "Eu gosto de você, Rainha. Você é uma das melhores pessoas que têm nesse lugar". Para meu azar, Caine e eu compartilhávamos do magnifico dom de ser ininteligível; não sabia ao certo se suas palavras eram verídicas ou somente parte de seu joguinho estúpido de sedução. Optei em acreditar que a segunda opção era a mais viável. Caine tinha uma fama de "pegador" por todo o Hambug, parte de mim acreditava que no fundo o garoto só queria um ligeira e eventual troca de carícias, depois sairia se vangloriando do seu feito para terceiros.  

Prendi a respiração ao notar que o garoto se aproximava estrategicamente de mim, cada segundo mais perto. Mordisquei o lábio com uma força a mais, obtendo o que tanto almejava. Controle. — Não há um único presente nesse acampamento que não saiba quem sou eu. Isto é um fato. — Sussurrei. Ergui um braço, deixando a palma da mão erguida a frente do rosto dele, mantendo tal distância entre nossas faces. — Ora, ora. Que novidade. Você gosta de mim ou gosta da fama que levaria após ficar comigo? Tenho certeza que sairia espalhando por todo o acampamento sobre tal feito, estou certa? — Arquejei ao fim de minhas palavras. Tratei de olha-lo diretamente nos olhos, deixando que o mesmo não escapasse de meu questionamento. Havia lhe dado um ultimato; subitamente o desejo de saber a verdade parecia incontrolável sobre mim. Desejava saber se era verdade as palavras de Caine, se realmente o garoto nutria qualquer sentimento por mim ou se queria apenas mais uma garota em sua lista. Se a segunda opção fosse a verdadeira ele sentiria o quão forte pode ser uma rainha.

Não diria que estava surpresa com as palavras de Caine; de certo modo eu já havia deduzido mentalmente que o garoto reagisse de tal modo, e de que falaria aquilo. Quando se tratava de garotos como ele podíamos esperar coisas do tipo "Nada de compromisso", "Amizade Colorida" ou algo semelhante a isto. Não desviei a momento algum o olhar dos dele, avaliando-o atentamente a procura de qualquer deslize que mostrasse falsidade em suas palavras. Nada transpareceu. — Quanto avanço. Caine sendo sincero. Devo ganhar um prêmio por tal mérito. — Brinquei.

O crepúsculo deu lugar ao anoitecer e a brisa gélida soprava arrepiando-me a todo instante que tocava minha pele. Olhei o mar pela última vez, guardando em mente o belo cenário que aquilo havia se tornado; sem muita demora retomei minha atenção a Caine, era visível o quanto o mesmo almejava por minha resposta e fui cuidadosa o bastante para não deixar nada transparecer. Sempre fui uma ótima mentirosa, isto ninguém podia negar.

Meu olhar avaliativo correu por toda a face de Caine. Sim, ele era bonito, atraente, o sonho americano de qualquer garota, entretanto, eu o conhecia e este era o maior problema. Eu sabia o que poderia me acontecer se entregasse-me de fato a ele e eu detestaria provar do meu próprio veneno, eu costumava quebrar corações, não o contrário. Mordiquei lentamente o lábio inferior; uma repentina ideia pairou em minha mente e eu a colocaria em prática. Lentamente aproximei minha face da do garoto, a ponto de sentir seu hálito quente soprar em minha face. Deixei que meu olhar fixasse-se ao dele e prossegui com o avanço, porém, antes que nossos lábios se chocassem desviei-os e me curvei defronte ao rapaz, segurando em seus ombros e guiando meus lábios até sua orelha. — Nos vemos por ai. MotherFucker. — Com o fim do sussurro ousei mordiscar o lóbulo da orelha do garoto e depositei um estalado beijo logo abaixo da mesma, numa região sensível, o que certamente o arrepiaria.

Ligeiramente me pus de pé. Sem que ele pudesse me interromper, girei e caminhei para o norte da praia em passos firmes e um olhar fixo em qualquer coisa que me fizesse esquecer o que acabará de fazer; o inebriante perfume de Caine ainda era presente em mim e aquilo me deixou mais irritada. Mais adiante algumas meninas que presenciaram ao momento particular se aproximaram com risinhos insinuativos e olhares famintos por novidade. Ergui uma mão num sinal para que parassem onde estava e mantive-me com o olhar fixado adiante, não precisava relatar o que acabará de acontecer com mais ninguém e me certificaria que aquelas estúpidas bisbilhoteiras fizessem o mesmo.